Efeitos da Atividade Física Excessiva na Saúde Cardiovascular


Que a atividade física é benéfica para a saúde das pessoas parece não restar dúvida. A questão que se coloca é se existe algum limite para a atividade física. Uma hora de atividade física, por dia, parece ser muito bom para a saúde, mas será que 3 horas de atividade física seria 3 vezes melhor? Este é um ponto a ser discutido neste post. Para começar a conversa vou dizer que existem muitos estudos relatando os impactos nocivos dos treinos em excesso para a saúde coronariana. Mas existem muitas questões a serem debatidas, como por exemplo: o que realmente importa é o tempo de atividade física ou o nível de esforço da mesma. Exemplificando melhor: será que correr 3 horas, ou 4 horas, em baixa intensidade de esforço, é pior, para a saúde, do que correr 90 minutos, ou 2 horas em alta intensidade de esforço? Será que a questão é só o tempo de atividade, ou o tipo de atividade e o nível de esforço também são importantes?
 
Alguns estudos alertam que apesar dos benefícios advindos da prática regular, e moderada, da atividade física, exercícios de endurance podem trazer alguns malefícios para a saúde das pessoas, inclusive problemas coronarianos. Algumas pesquisas empíricas encontraram evidências de que a atividade física em excesso, e em alta intensidade de esforço, pode trazer a elevação do risco cardíaco. Estudos anteriores já haviam mostrado algum tipo de arritimias em corredores de maratona. Os números apresentados assustam, pois quase 50% dos corredores apresentaram algum tipo de arritimia, as quais continuaram por alguns dias após o evento.
 
A morte recente do ultramaratonista Micah True, que inspirou o livro Born to Run, levantou a discussão sobre o assunto, de forma mais intensa. Alguns estudos parecem indicar que a questão não está relacionada apenas com o tempo de atividade, mas com o nível de esforço imposto ao atleta. Ou seja, um treino de longa duração e alta intensidade, se efetuado de forma repetitiva, numa frequência muito grande, pode trazer alguns problemas de saúde no longo prazo.
 
A questão é relevante, mas não é preciso parar de treinar mais forte por causa disso. Alguns estudos mostram que a queda de eficiência observada no ventrículo direito, após uma maratona, pode ser totalmente normalizada no espaço de 1 semana. Ou seja, se você correr uma maratona por dia, talvez venha a ter problemas cardíacos mais graves, mas, caso você tenha um bom planejamento de treinos, trabalhando bem os conceitos de duração e intensidade, é bem provável que o seu treino lhe traga mais benefícios do que malefícios.
 
Em estudo realizado por La Gerche et al (2011), com atletas que treinavam mais de 10 horas por semana (o que é uma carga baixa de treino para um triatleta - minha observação), concluíram a prova entre os top 25% (ou seja, se submeteram a um esforço considerável, pois chegaram no primeiro quarto dos que finalizaram a prova - minha observação) e não apresentavam problemas cardíacos pré-existentes foi observado que o volume do ventrículo direito havia aumentado de tamanho (com a relação de que quanto maior a duração da prova, maior o aumento observado), ao mesmo tempo em que o volume do esquerdo havia diminuído. Em geral, em uma semana, os sintomas desapareciam e a situação voltava ao normal. Tal fato não foi observado em 13% dos participantes da pesquisa que demoraram mais de uma semana para voltarem a situação normal.
 
 
A análise da figura ao lado parece indicar que um treino de alta intensidade e curta duração é o mais indicado para a saúde em geral. Não é o objeto deste post, mas em outro post a ser publicado em algumas semanas irei debater que este modelo de treino, com workouts mais curtos e, com maior vigor, parece ser o mais indicado mesmo para provas de endurance. Os longões, ficariam restritos a poucos por semana (um de natação, um de bike e um de corrida, por exemplo, no caso de um atleta treinando para o Ironman).
 
O coração, como um músculo, no caso de um atleta treinado (e que treina muito) passa por uma série de alterações. É interessante notar que muitas dessas alterações, quando se analisa o coração das pessoas em geral, são associadas a uma situação cardiovascular não tão boa. Também consta de alguns estudos que as adaptações sofridas pelo coração de atletas de endurance, que treinam e competem por longos períodos de tempo (20 anos, por exemplo) não costumam voltar ao estado inicial, mesmo após a parada dos treinos (mesmo muitos anós após). No caso de corredores de ultramaratona, O´Keele (2012) encontrou não só as já citadas alterações coronarianas, bem como disfunções renais.
 
O objetivo deste post não é esgotar o assunto, nem causar pânico, mas apenas alertar para alguns cuidados que devemos ter ao praticarmos atividades de endurance. Não precisamos nem destacar que o impacto de atividades de endurance, com longa duração e intensidade, pode trazer complicações não apenas cardiovasculares, bem como músculo esquelética.
 
Uma boa maneira de minimizar alguns dos riscos, ou impactos negativos de uma atividade física excessiva na saúde do atleta é consultar um cardiologista antes de iniciar as suas atividades, bem como realizar exames anuais (pelo menos) para acompanhar a sua situação cardiovascular geral. Alguns exames bioquímicos, que podem ser solicitados por um médico, ou nutricionista também podem ser interessantes para avaliar o nível de estresse a que seu corpo está sendo submetido. Uma pesquisa interessante é fazer alguns destes exames antes e depois de uma prova de endurance (partindo do princípio que antes da prova você estará bem descansado e após bem desgastado).
 
 
Fontes Consultadas:
 
1) Harmon, Katherine. Ultra Marathons Might be Ultra Bad for your Heart. Scientific American, jun 2012.
 
2) La Gerche A, Burns AT, Mooney DJ et al. Exercice-induced Right Ventricular Dysfunction and Structural Remodeling in Endurance Athletes. European Heart Journal.Dec, 2011.
 
3) O´Keele, James H et al. Potencial Adverse Cardiovascular Effects from Excessive Endurance Exercise. Mayo Clinic Proceedings. Vol 87, Issue 6, jun 2012.

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