As mortes em provas de triatlo, especialmente na perna
da natação, têm preocupado as pessoas envolvidas no esporte. O USAT (USA Triathlon) tem
realizado alguns estudos e investigações a respeito do assunto. No período
analisado pelo estudo (do USAT), que foi de 2003 à 2011, ocorreu um total de 45
mortes (sendo 31 delas na natação, o que representa 69% do total). O número
apesar de ser baixo, em termos de proporção do total de participantes nos
eventos, causa preocupação, pois o que se busca é que nenhuma fatalidade
ocorra. Um ponto que chama a atenção nestes números é que a maior parte das
fatalidades aconteceu com atletas experientes, ou seja, o fenômeno não ocorre
só com atletas iniciantes.
Existe uma suspeita, porém não há uma comprovação categórica, de
que as mortes tenham o corrido por SIPE (swimming-induced pulmonary edema). Tal
patologia, segundo algumas pesquisas, afeta cerca de 2% dos nadadores de águas
abertas (especialmente maratonas aquáticas) e 1,4% dos triatletas. A incidência
seria maior em provas mais longas (IM 70.3 ou IM).
O processo de evolução do SIPE, durante uma prova é bem
rápido, mas tendo uma ideia dos sintomas, pode-se solicitar ajuda, parar de
nadar e tentar reverter o quadro. O indutor do processo é a privação do
fornecimento de oxigênio, sentida por um cansaço, uma dificuldade para
respirar, mas que pode levar à uma parada cardíaca.
Identificar os sintomas é crucial para evitar o
pior...então vamos a eles:
- cansaço;
- dificuldade para respirar; e
- tosse (em geral com espuma com coloração avermelhada).
Sentiu os sintomas? Pare! Por instinto não queremos
parar, afinal estamos acostumados ao cansaço nos treinos, além do que a
dificuldade para respirar pode ser considerada “normal” num mar agitado, sem
contar que a tosse pode ser porque “bebi” um pouco de água do mar (ou rio, ou
lago). Ou seja, é grande a chance de nos deixarmos levar pela tentação e
continuarmos na prova. Caso o atleta não pare, não procure ajuda médica
imediata, o quadro pode ser agravar levando a complicações cardíacas que podem
culminar com uma parada cardíaca.
É interessante identificar os fatores que podem levar a
uma maior incidência do SIPE, ou seja, os seus fatores agravantes. Pois bem,
vamos a eles:
- hidratação excessiva antes da prova;
- pressão alta;
- adrenalina pré-prova;
- curso muito longo;
- água muito fria; e
- uso de wetsuit.
É interessante notar que muito dos fatores que podem
propiciar o surgimento de um quadro de SIPE durante uma prova são negligenciados.
A hidratação excessiva ocorre muitas vezes, pois o atleta quer se sentir “hidratado”
para a prova. Ocorre que o excesso de hidratação vai acarretar uma série de
desequilíbrios para o atleta. A adrenalina pré-prova é muitas vezes difícil de
se controlar, mesmo para atletas experientes. A água muito fria, que causa a
contração dos vãos sanguíneos, pode ser “controlada” com o uso do wetsuit, o
qual também foi considerado um dos elementos com potencial de agravar o quadro.
A questão chave é a conscientização de que o problema
existe, de que pode acometer qualquer um, independentemente do nível de treino,
preparo e senioridade. É difícil parar no meio de uma prova, ainda mais na
etapa da natação, mas lembre-se de que a sua saúde vem em primeiro lugar e está
é só mais uma prova, outras virão.
Caso você tenha se interessado pelo assunto e queira se
aprofundar, segue a bibliografia consultada.
Miller III, Charles C.; Calder-Becker, Katherine; Modave, Francois
(2010). "Swimming-induced pulmonary edema in triathletes". The
American Journal of Emergency Medicine 28 (8): 941–6.
Pons, M; Blickenstorfer, D; Oechslin, E; Hold, G; Greminger, P;
Franzeck, UK; Russi, EW (1995). "Pulmonary oedema
in healthy persons during scuba-diving and swimming". The European
respiratory journal 8 (5): 762–7
Weiler-Ravell, D; Shupak, A;
Goldenberg, I; Halpern, P; Shoshani, O; Hirschhorn, G; Margulis, A (1995). "Pulmonary
oedema and haemoptysis induced by strenuous swimming". BMJ 311
(7001): 361–2
Wilmshurst, P; Nuri, M; Crowther, A; Webb-Peploe, MM (1989).
"Cold-induced pulmonary oedema in scuba divers and swimmers and subsequent
development of hypertension". The Lancet 333 (8629): 62–5.
USA Triatlon Fatality Incidents Study (www.usatriathlon.org)
0 comentários:
Postar um comentário