Da minha experiência de 25 anos como professor universitário nas áreas de economia, finanças e estratégia, se aprendi algo, é que as empresas nascem, crescem e morrem, assim como as pessoas. Ou seja, as empresas tem um ciclo de vida. Algumas operações duram muito pouco, outras duram muito. Só a título de ilustração, a expectativa média de vida das empresas americanas listadas no S&P 500 não passa de 50 anos (e olha que estamos falando das maiores empresas americanas).
A maior parte das empresas, que tem a sua vida interrompida, padece, ou padeceu de um mal. Qual? Em geral, mas na maior parte dos casos mesmo, o mal que afetou o desempenho, os resultados, os negócios foi a falta de sintonia com o mercado. A empresa parece que se esqueceu que é o mercado quem dita as regras, quem manda. Em geral, as empresas que enfrentarão problemas amanhã são as empresas que são líderes de mercado hoje, que são grandes corporações, que tem negócios muito bons, mas tão bons que nem se preocupam mais com a inovação e, muito menos ainda, com o consumidor, com o mercado.
Feita esta introdução, vamos ao início do nosso post. Pois bem, o tema aqui é a questão do patrocínio e apoio. Estou desconsiderando apoio de órgãos governamentais, embora eles sejam muito importantes, por uma razão bem simples. Com raríssimas exceções temos algum planejamento sério, de desenvolvimento de base, de busca de talentos, nas diversas áreas de esportes no Brasil. Vez por outra "brota" algum talento, quase do nada. Esta falta de política governamental mais séria, em relação ao esporte faz com que muitos talentos se percam. Em alguns esportes a situação é crítica. Vamos pegar o exemplo do nosso esporte, o triatlo. Ele é, por definição, elitista. O investimeno inicial é brutal. Quantos talentos não são barrados nesta fase? Quanto custa uma bicicleta, sapatilha, capacete, tênis, roupas específicas, suplementação, dentre outros? E os valores de inscrição? Temos o record de inscrição do Ironman 70.3 mais caro do mundo. Aqui, custa US$ 500,00.
Bom, já que não podemos esperar muito do governo, quem poderia ajudar o nosso esporte? As empresas, com apoio e patrocínios. Não quero entrar na semântica das palavras, mas aqui vou diferenciar patrocínio e apoio como sendo pagamento em dinheiro ou cotas de produtos, respectivamente. No Brasil eu diria que o profissional sofre bastante neste quesito. A falta de uma estrutura mais adequada faz com que seja muito difícil ser profissional de triatlo no Brasil. As empresas investem pouco, pois não há um retorno de mídia muito grande em provas de triatlo no Brasil. Quando comparamos o crescimento do esporte nos EUA, em relação ao Brasil, vemos que temos um longo caminho pela frente. Mas o foco do post não é o triatleta profissional, mas sim o amador.
Nos EUA, aonde a mídia em cima do triatlo é muito, mas muito maior do que no Brasil, o que faz com que seja mais fácil buscar patrocínios, em função de um maior retorno de imagem, a vida do profissional é mais tranquila no aspecto financeiro. A do amador também! Dá para se observar um fenômeno interessante que já ocorre há algum tempo nos EUA e começa a acontecer no Brasil. O fenômeno é o número cada vez maior de empresas que apoiam atletas amadores. Em geral, tais empresas preferem apoiar "Triathlon Teams", ou "Triathlon Coaches", do que atletas individuais (profissionais, ou mesmo amadores), outras preferem apoiar atletas amadores à profissionais. O objetivo é um só, buscar um maior retorno em termos de marketing, em termos de imagem, de forma a aumentar as vendas. Se pensarmos bem, faz sentido esta posição. Quando você direciona seus recursos de patrocínio e apoio para atividades locais, caso a sua empresa tenha atuação local, você otimiza os recursos investidos. Outro ponto relevante é que 99,99% das suas vendas serão suportadas por atletas amadores. Desta forma, ter na sua política alguma ação voltada para este público é muio importante.
Pois bem, pensando nisso, e para testar como as grandes empresas do triatlo pensam no assunto, bem como a importância que elas dão aos seus consumidores, fiz uma pesquisa com 100 empresas ligadas ao triatlo. Todas elas são empresas estrangeiras, sendo que algumas têm operações no Brasil. Um detalhe interessante é que quase 100% dos contatos direcionados à empresas brasileiras não foram respondidos, com a grata e rara exceção da Proparts (o contato que fiz com a Mavic redirecionado para ela). Então empresas que têm operação e representações no Brasil repensem a sua postura, pois o mercado muda, o mercado se move e o mercado é direcionado pelos consumidores.
Como esta é a primeira pesquisa que faço, não vou publicar o nome das empresas que não responderam. Pretendo refazer esta pesquisa, ampliando o número de empresas pesquisadas para 250 e incluindo empresas brasileiras. Neste segundo trabalho, mais completo, vou listar o nome de todas as empresas consultadas e classificá-las em grupos (as que não responderam a consulta, as que apoiam amadores e as que não apoiam amadores). Vejam que apoiar, ou não atletas amadores faz parte da estratégia da empresa, da área de marketing da empresa e é uma decisão de foro íntimo, mas não responder uma pesquisa, uma consulta, apesar de ser uma decisão interna da empresa, a qual devo respeitar, têm consequências, pois mostra como a empresa lida com o mercado consumidor.
Pois bem, vamos citar as que responderam. Das 100 empresas pesquisadas, 18 responderam a consulta inicial. As fábricas de bicicleta, sem exceção, solicitaram consulta aos dealers locais, o que eu não fiz. Responderam a consulta, as seguintes fábricas de bike: Cervélo, Trek, Argon e Orbea. Gatorade e Newton Running direcionaram a resposta para os representantes locais, com encaminhamento do email e a citação do contato que iria responder. A Gatorade Brasil não respondeu e a Track & Field, que representa a Newton Running no Brasil também não respondeu. A Computrainer respondeu informando que só patrocina atletas profissionais. A Thule informou que, no momento, não patrocina nem amadores nem profissionais, ao passo que a Hammer disse que foca a estratégia em amadores. A First Endurance respondeu, mas não entendeu a questão colocada. Zipp, Cycleops e Coob disseram que patrocinam tanto amadores quanto profissionais. Finalmente, no topo da lista no que se refere a qualidade de resposta, atenção no atendimento, cabe um destaque especial para CarboPro e Enve, que patrocinam tanto profissionais como amadores. Também merece um destaque especial a Rolf Prima que destacou que apesar de ser uma pequena fábrica, quando comparado com as suas concorrentes, patrocina tanto amadores qunato profissionais, bem como a Mavic, que por seu representante no Brasil (Proparts) deu uma atenção especial aos questionamentos feitos.
Pois bem, este foi o resultado da primeira pesquisa. Estou ampliando a amostra e vou continuar a pensar e estudar o assunto. Daqui a algum tempo (provavelmente uns 3 meses) publicarei a segunda rodada, devidamente ampliada, da pesquisa.
Este problema não é só no triatlo....tenho um blog sobre tecnologias não letais e acredito ou não os fabricantes do Brasil não responderam nenhum email meu solicitando informações extras....
ResponderExcluirhttp://tecnologianaoletal.blogspot.com.br/