A periodização dos treinos é um conceito relativamente simples, mas de difícil aplicação. Pode parecer uma contradição, mas não é, pois uma boa periodização requer um excelente planejamento que passa pelo conhecimento do atleta, seu histórico atlético (lesões, desempenho, dentre outros), e seus objetivos para a temporada. Um primeiro ponto para uma boa periodização é a determinação das provas consideradas principais. Todo atleta tem algumas provas-chave. Pois bem, tais provas merecem um destaque especial na periodização, pois elas serão a espinha dorsal do plenejamento. Provas menores ou provas de outras modalidades (corridas, ciclismo, natação, duatlo, aquatlo) podem ser colocadas no calendário de provas como ponto de controle, ou de observação. Serviriam como um treino especial, mais forte, num ambiente mais competitivo. Tais provas não poderiam, todavia, atrapalhar o planejamento que deveria estar focado nas provas-chave.
O tempo necessário para a periodização (ou "tamanho do ciclo") dependerá de diversos fatores, tais como o nível de preparo do atleta, e tipo de prova a ser feita (do short ao ironman). Neste quesito, em especial, é evidente que quanto maior a extensão da prova, maior a importância de uma boa periodização.
É claro que antes de se pensar na periodização você deve ter um bom conceito de treinamento e preparo. Os principais pontos de um programa de sucesso devem incluir, dentre outros:
- passar por avaliação médica inicial,
- moderação e consistência (devagar e sempre),
- boa nutrição e hidratação, não só nas provas, mas nos treinos,
- descanso (repouso) entre os treinos,
- persistência.
Deve ficar claro que o profissional habilitado para ajudá-lo, neste processo, é o educador físico (além do médico para uma avaliação inicial, bem como um nutricionista para assessorá-lo na estratégia nutricional, a qual irá variar de prova para prova e de fase para fase, nos seus treinamentos).
A periodização pode ser feita por temporada (ano), neste caso estamos falando do macrociclo de treinamento. Além disso temos o mesociclo que pode ser dividido, em termos gerais, em preparação, competição e pós-competição. Ainda, em termos de mesociclo, podemos dividir a fase de preparação em geral e específica e a de competição em pré-competição e competição propriamente dita. Indo mais no detalhe do mesociclo temos a divisão da preparação geral em preparação inicial, base (que pode ser subdividida em mais de uma fase). Já a fase de preparação específica pode ser dividida em fase de construção, ou build (também aqui mais de uma fase pode existir). Esta tende a ser a fase mais extensa de um programa de treinamento. Finalmente, na fase de competição, podemos ter as subdivisões em peak performance (fase de polimento) e a competição em si. Um dos grandes objetivos de um bom planejamento, de uma boa periodização é evitar que você chegue exausto à prova. Treinar demais pode ser tão ruim, ou até pior do que "treinar de menos". Neste quesito, o repouso, bem como uma correta nutrição e hidratação, podem fazer milagres.
As variáveis a serem consideradas na fase de periodização são o volume e a intensidade do treinamento. Aliás, muito cuidado deve ser observado no manejo de tais variáveis, pois um aumento de volume e intensidade, de forma simultânea, pode levar a uma lesão (o que seria nada desejável). Existem diversas estratégias de periodização, no que se refere à busca da compatibilização entre volume e intensidade. Importante ressaltar que o objetivo final é a busca e manutenção, para o período das competições principais, de um nível de preparo (fitness) muito bom.
Uma das estratégias é a periodização linear. Neste modelo o atleta inicia a temporada focando no volume de treinos (extensos e baixa intensidade), buscando uma maior capacidade aeróbica. No período seguinte (build) o volume de treino diminui e a intensidade aumenta sendo que, nesta fase, o objetivo é adquirir uma maior capacidade muscular e anaeróbica. Finalmente, vem a fase de polimento, na qual busca-se manter o nível de fitness obtido anteriormente, com um planejamento de treinos mais curtos e intensos, porém com o cuidado de compatibilizar o esforço excessivo, com o destreinamento.
Um outro modelo interessante, que pode ser utilizado para atletas que se sintam "cansados", ou desmotivados com a periodização clássica, é o de periodização não linear, ou ondulada. Neste caso trabalha-se com uma oscilação entre volume e intensidade, ao longo do tempo, mesclando as atividades. Pode-se trabalhar com um alto volume de ciclismo (a baixa intensidade) aliado a um baixo volume na corrida (a alta intensidade), por semana, ou quinzena, sendo que no período seguinte, ocorreria a inversão das atividades.
Para finalizar, o mais importante de tudo é que você veja no triatlo uma fonte de saúde, de prazer e de confraternização. Assim, acima de tudo busque estabelecer alguns limites para os seus treinos e para a busca por desempenho. vale à pena trocar o no pain, no gain, pelo no brain, no gain!
Bons treinos!!!!
Referências Bibliográficas:
BERNHARDT, G. Training Plans for Multisport Athletes. Velo Press, 2000.
FRIEL, J. The Triathlete's Training Bible. Velo Press 2009.
USA TRIATHLON. Complete Triathlon Guide. Human Kinetics, 2012.
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