Entrevista com Marcus Ornellas

Pessoal, o entrevistado da semana é o triatleta Marcus Ornellas. Bom, o nome dispensa maiores comentários. Sou um grande fã dele e fiquei muito feliz com o fato de ter aceito fazer a entrevista. Uma grande honra poder divulgar, para os leitores do blog, alguns dos pensamentos e opiniões de um grande atleta profissional, que se mantém competitivo após muitos anos. Lembro de ter visto a última prova que ele fez aqui em Santos, no Troféu Brasil...parecia um menino correndo....
 
Espero que vocês gostem da entrevista, está muito legal e mais uma vez, obrigado Onellas por ter aceito. Espero uma rápida recuperação e que volte com muita força ás provas!


1) Dados pessoais

Marcus Ornellas, 42 anos, 67 kg e 1.76 m. Não tenho patrocinadores.

 

2) Conte um pouco a sua trajetória no triatlo

Bom... Vou tentar ser o mais breve possível, se não estarei escrevendo um livro pra vocês!!! Hehehe. Comecei aos 15 anos no Short Triathlon O GLOBO/Armazém dos Esportes. Desde os 11 anos, depois de assistir ao Ironman do Hawaii e aquela dramática chegada da Julie Moss, imaginava um dia poder competir numa prova de triathlon. A oportunidade surgiu e resolvi experimentar. Pedi uma bike emprestada de um amigo da escola, "treinei" menos de uma semana e fui para minha primeira competição de triathlon. Me apaixonei e estou nessa vida desde novembro de 1986.

Aos 16 já competia na categoria Profissional e descobri que tinha uma certa facilidade para pedalar. Aos poucos meu pai me ajudava a adquirir melhores equipamentos. Meu sonho era competir fora do Brasil e junto com os melhores do mundo. De preferência com aqueles que costumava ver nas principais revistas estrangeiras.

Minha primeira vitoria foi aos 18 anos, na praia de Peniche em Portugal, durante o Campeonato Ibérico. Foi uma performance que eu mesmo não esperava e consegui surpreender a equipe espanhola que era fortíssima na época. Foi curioso que durante boa parte da prova enfrentei a hostilidade da torcida portuguesa que não sabia que eu era brasileiro, e pensavam que fosse espanhol.

Competi em diversos Campeonatos Mundiais da ITU (7 mundiais), inclusive na primeira edição em Avignon, na França em 1989. Consegui por duas vezes ser Top 3 em etapas de World Cup, na época era sem vácuo.

Conquistei por duas vezes o Troféu Brasil de Triathlon , três vezes o Campeonato Brasileiro e mais duas vezes o Campeonato Brasileiro de Cross Triathlon.

Em um mesmo ano, consegui a façanha de vencer o Campeonato Brasileiro, Troféu Brasil, Sesc Caioba e o antigo Meio Ironman do Brasil, que era realizado em Porto Seguro.

Entre 2005 e 2011 passei temporadas na Europa e por 3 anos representei um clube de Turin. Itália e França eram as minhas bases e consegui vencer diversas provas em diferentes distâncias ao longo deste período. Há 3 anos meu filho Guilherme nasceu, tornando-se a minha maior inspiração para enfrentar qualquer adversidade no caminho.

 

3) Que tipo de prova mais gosta (olímpico, 70.3, IM). E qual menos gosta?

Gosto de todas as distâncias, porém sempre prefiro percursos bastante montanhosos, desde que sejam provas sem vácuo. As provas com distâncias maiores que o 70.3 e menores que um Ironman são as minhas prediletas. Não gosto de Duathlon e de provas com vácuo liberado, principalmente dos modelos de provas que normalmente são organizadas no Brasil, em percursos super planos contornando cones de ida e volta...

 

4) Qual é a sua melhor disciplina no triatlo?

Apesar de nadar desde os 5 anos, acredito que o ciclismo seja a parte que tenho maior facilidade, e portanto minha melhor disciplina.

 

5) Como é a sua rotina de treinos?

Minha rotina esta um pouco alterada no momento, devido a minha recente contusão. Precisei fazer uma cirurgia no joelho em abril... Nas últimas semanas , a partir do final do mês de maio, estava nadando praticamente todos os dias e progressivamente pedalava um pouco mais e sempre no rolo. Tenho um TACX que me ajuda bastante, pois e' um aparelho repleto de recursos. Com isso consigo treinar bem e todo monitorado, sem me colocar em risco pedalando nas ruas ou estradas.

Durante este período posterior a minha cirurgia, vinha fazendo fisioterapia (caneleira, bola Suíça, manipulações etc) 2 vezes ao dia e durante toda a semana (7 dias). Finalmente esta semana comecei a musculação. Em julho estarei liberado para correr.

Atualmente trabalho de segunda a sábado pela manha e só posso começar meus treinamentos na parte da tarde.

Quando estiver em condições normais, estarei nadando de 4 a 6 vezes por semana. Pedalando pelo menos 5 vezes e correndo 4 vezes na semana. Percebo que infelizmente não posso mais correr mais do que 4 vezes na mesma semana sem me lesionar. Portanto, prefiro correr menos a fim de me manter nas competições por mais algum tempo.

 

6) O que deveria mudar para que novos talentos despontassem com mais facilidade?

Na minha opinião, o número de provas mais curtas deveria aumentar, assim como as provas de aquathlon, a fim de despertar o interesse dos nadadores. Além disso, seria fundamental que fossem criadas competições estudantis nas principais cidades do país, principalmente nas capitais.

A CBTRI criou um circuito chamado Copa Brasil. A ideia e' boa desde que seu calendário proposto seja realmente realizado dentro das datas apresentadas. Sinceramente não sei se a confederação tem noção da importância deste circuito para a formação dos jovens atletas. Espero que sim!

Um maior intercâmbio (clinicas ou trainning camps), oferecido por cada Federação, entre os atletas profissionais e os jovens iniciantes.

Outra questão que acho importante e' que sejam organizadas provas em percursos um pouco mais desafiadores e técnicos. Competir em provinha plana contornando cone, não vai colaborar para uma adequada formação de atletas e muito menos para a descoberta de talentos... Hoje em dia os atletas precisam dominar as 3 disciplinas.


Seguir o planejamento e os moldes da Federação Francesa de Triathlon seria uma boa alternativa. Acredito que esta seja a melhor "Escola" de Triathlon no mundo!!!

 

7) Que dicas você pode dar para quem deseja iniciar no triatlo?

Procure sempre um profissional da área de educação física. Hoje encontramos nas principais cidades do Brasil diversas assessorias esportivas comandadas por atletas profissionais ou ex atletas. São pessoas muito experientes que podem fornecer uma orientação diferenciada e de qualidade. Sugiro que comecem pelas provas de curta distancia e de preferência sem vácuo, tanto pela questão de segurança como também para o aprimoramento técnico da pedalada. Não gaste muito dinheiro em equipamentos. Lógico que existem os equipamentos de segurança e conforto que são essenciais, como o capacete, sapatilhas e roupas de ciclismo. Assim como e' muito importante uma boa escolha do tênis adequado ao seu peso e forma de pisar. Nem sempre o mais caro e' o melhor. Por isso e' importante que este iniciante esteja sendo orientado por um profissional de qualidade.

 

8) Como é ser atleta profissional no Brasil?

Não e' nada fácil e por incrível que pareça, esta cada vez mais difícil... Mesmo depois de Jogos PANAMERICANOS, futura Olimpíadas em 2016 e inúmeras empresas associadas ao esporte, era mais rentável e seguro antigamente. Mesmo lembrando que sempre foi uma corda bamba essa vida de atleta.

Em minha opinião, vejo as empresas atualmente apoiando mais eventos e menos aos atletas profissionais. Estes cada vez mais procuram outra forma de se sustentar a fim de colaborar na sua permanência como atleta de Elite. A disputa em relação aos atletas estrangeiros e' desigual e desleal!!! Não da para comparar. E isso parte desde a aquisição de equipamentos, passando pelas condições de treinamento (área de treinamento) e exposição na mídia. Nosso pais e' uma piada neste quesito...

 

9) Qual foi o seu momento mais gratificante no triatlo?

São vários momentos felizes, começando pela minha primeira competição, passando pela minha primeira vitoria em Portugal. A etapa final da minha primeira conquista do Troféu Brasil também me marcou... Minha prova do Ironman de Nice quando fiz 8h30' foi super gratificante, assim como minha vitoria no Triathlon Longa Distancia do Alpe D'Huez, montanha mítica do ciclismo mundial. Na prova, a montanha estava toda pintada devido ao Tour de France que havia acabado de passar 2 dias antes do Triathlon.

 

10) Qual é o seu segrego para se manter competitivo por tanto tempo?

Segredo... Acho que não existe... Quem me conhece ou conviveu comigo sabe que sempre fui dedicado, regrado e extremamente disciplinado nos treinos. Sempre treinei bastante, sou nutricionista e sempre cuidei muito bem da minha alimentação. Sou extremamente contrário ao consumo de álcool e refrigerantes. Talvez isso, a longo prazo, tenha me favorecido um pouco a continuar competindo. Desde o ano passado tenho enfrentado contusões diferentes. Ano passado minha corrida ficou muito prejudicada por não poder dar seqüência nos treinamentos específicos. Este ano acabei precisando fazer uma cirurgia, pois lesionei meu joelho durante a etapa do Campeonato Brasileiro de Longa Distancia em Fortaleza. Agora, mais uma vez, estarei sendo colocado em xeque... Vamos ver se, mais uma vez, terei forca física e mental para voltar a competir como profissional.

 

11) Quais são os seus projetos futuros dentro do triatlo?

Em Novembro estarei organizando uma etapa do Circuito 25.75 no Brasil, e mais especificamente em Niterói, cidade onde nasci, cresci e que ainda vivo. Há muitos anos que digo que existe um processo de formação de atletas, e que discordo com que tenho acompanhado, vendo atletas sem experiência se "aventurarem" em provas de Ironman. Na minha opinião, existe uma escola a ser cumprida, e que os atletas devam experimentar as distâncias mais curtas e criar uma base sólida para depois experimentarem distancias mais longas.

Esse foi um dos motivos que me levou a trazer esta marca mundial para o Brasil. Poder de alguma forma contribuir na formação de atletas, despertar o interesse dos jovens pelo triathlon e colaborar com os técnicos na formação dos seus atletas, sejam eles de quaisquer faixas etárias.

Em nível de competição, depois que me recuperar plenamente da minha cirurgia, recuperando minha forma física, pretendo correr algumas provas de longa distância na Europa, desde que tenham muitas subidas.

No Brasil, estarei presente somente nas etapas do Estadual do Rio, devido ao longo período que precisei ficar ausente devido a minha contusão. Também aguardo a divulgação do calendário 2014, a fim de confirmar se realmente teremos uma etapa de Ironman ou 70.3 no Rio de Janeiro. Com certeza , se houver, estarei presente!

 

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